domingo, 1 de abril de 2007

O Mistério da Travessa

Pois é. Poderia ser o mote para um verdadeiro policial, digno de grandes aclamações por parte dos críticos e da Opinião Pública. Ou então servir de título para uma pequena série de suspense, a realizar por um qualquer canal de televisão. Mas não, não é nada disso.

O Mistério da Travessa é algo que me acompanha desde há algum tempo; algo que, na minha sincera inocência, me revolve as entranhas do cérebro e me permite divagar sem medo de cair no ridículo.

Vou então passar à contextualização desta magnífica entorce cognitiva: estamos numa qualquer cerimónia, mais ou menos informal, com público, anfitriões, convidados - é este o cenário do mistério.
A cerimónia acaba. O público aplaude, os anfitriões agradecem a aderência e os convidados o reconhecimento por parte de todos. É aqui que acontece o insólito. O anfitrião, num acto de boa fé, resolve presentear o(s) convidado(s) com uma «pequena» lembrança. Eis que chega o embrulho, algumas vezes acompanhado de um ramo de flores. Os olhares curiosos arregalam-se e o público sustêm a respiração naqueles breves momentos em que o convidado decide se rasga o papel ou se cumpre com o protocolo de «tira pela fita-cola porque assim para o ano aproveita-se o papel».

O que será a «pequena lembrança»? Uma pintura de um qualquer artista contemporâneo? Um livro? Um jogo de xadrez? Não.
É uma travessa. Mas não é uma travessa qualquer; pode ser transparante, de cristal, quem sabe. Tem palavras no meio que podem dizer a quem foi oferecida a querida travessa, ou a instituição/entidade que o fez. Às vezes comete-se uma loucura e põe-se a data e o local.

O(s) convidados agradecem. Fingem-se surpreeendidos, como se nunca tivessem estado numa outra cerimónia e não tivessem visto alguém - ou até eles mesmos - a receber a travessa. Fingem-se satisfeitos pela sua recompensa. Porque depois de três horas de latim dispendido, uma travessa é mesmo aquilo que eles querem receber.

Porquê? Pra quê?
Será que alguém acredita que aquela travessa vai ficar exposta no melhor lugar da sala, para que, quando alguém entrar, a possa ver?
Será que alguém vai, num Domingo de festa, tirá-la do canto que ocupa e servir nela o lombo assado com batatas e laranja a acompanhar?

O Mistério da Travessa assombra o meu pensamento. Talvez precise que alguém me ofereça uma para que possa entender a sua insistente existência.

1 comentário:

Anónimo disse...

O mundo precisa destas reflexoes filosóficas! Sim, é verdade, nao vou voltar a falar dessas festas, mas vou dar outro exemplo: quantas vezes vejo na Praça da Alegria as avós oferecerem à Sónia, ao Jorge e ao (nosso colega) Helder, a bela da travessa ou do galhardete dos Bombeiros Voluntários de não sei onde! Se for para deixar na RTP, tudo bem, mas oferecer aos apresentadores?!? alguém acredita que eles levem aquilo para casa?! a serio, por muitos simpáticos que eles sejam, nao acredito (nem ninguém) que eles guardem aquilo... Há que ter bom senso e bom gosto!